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domingo, 26 de junho de 2011

She wouldn't cry for anyone.

Na mão direita uma xícara de porcelana com um chá de Camomila bem quente. Os joelhos dobrados em cima do sofá. Os cabelos presos num coque desarrumado. No corpo, seu moletom velho e surrado, mas era de longe, o melhor moletom do mundo. Em cima das pernas, um livro qualquer. Os olhos liam atentamente a cada palavra, mas nem todas eram memorizadas e entendidas.

Ela não prestava atenção. Estava lendo mecanicamente. Talvez ainda soubesse que a xícara estava em suas mãos e que o chá esfriaria, mas não se dera ao trabalho de levá-la aos lábios brancos pelo frio. Seu corpo, mesmo com o moletom, estava frio. Seu rosto, pálido. Sua alma, congelada.

E não havia vento entrando pela janela. Não havia ao menos uma fresta aberta. Não era frio psicológico. Era frio amoroso e doloroso.

Ela havia escutado aquelas seis malditas letras, que juntas formavam a palavra mais dolorosa para ela: acabou e depois dessa, vieram tantas outras palavras que ela mal sabia reorganizá-las em sua mente. Ela não conseguia, na verdade. Sua mente apenas martelava no acabou e seu coração batia mecanicamente porque ela não sentia dor nenhuma. Na verdade, ela não sentia nada. Nem a xícara que estava ainda muito quente queimando-lhe a palma da mão, nem o frio que pairava no ar. 

Sorte a dela que não sentia nada, mesmo que quisesse. Queria sentir a dor da perda do primeiro amor, como todos diziam que era. Queria sentir as lágrimas caindo pelas bochechas macias e geralmente coradas - agora pálidas. Queria poder gritar e se enfiar embaixo de uma coberta. Queria ver um filme romântico comendo brigadeiro e se esbaldar em lágrimas, mas ela não conseguia. E não era por falta de sentimentos. Nem porque era fria.

Era só porque ela acabou descobrindo que o amor não machuca, as pessoas é que se auto-mutilam sozinhas. Ela sabia que se derramasse uma lágrima, não pararia mais, mas sabia também que se chorasse, era porque ele não lhe merecia. Ela sabia que não a merecia, mas ele não merecia suas lágrimas. Manteria-se forte até que não aguentasse mais e mesmo quando não aguentasse, aguentaria mais um pouco. Aquilo podia sugar-lhe a alma, mas não choraria, tampouco sofreria. Ela era sensível, mas determinada. Era sentimentalista, mas não era idiota. 
Depois de ter passado a  metade de sua adolescência lendo textos sobre decepções amorosas de amigas e pessoas que ao menos conhecia, ela havia colocado uma coisa em sua cabeça: jamais choraria por homem nenhum, pois eles não mereceriam suas lágrimas. E até pareceria clichê, se não fosse verdade, mas o único que merece suas lágrimas, jamais a faria chorar. E depois de tanto ler essas frases, sentia-se preparada para encarar o mundo amoroso e decepcionante

Ela passaria por aquilo centena de vezes, como sua mãe e suas amigas haviam lhe dito certa vez, mas ela, como na primeira vez, não choraria em nenhuma delas. Não derramaria sequer uma lágrima por homem nenhum.

E eu esperava, do fundo do meu coração, que ela conseguisse.



 

Um comentário:

Letícia disse...

Own, Profundo!
Adorei o texto e a nova carinha do blog.
Beijos.